segunda-feira, 21 de julho de 2008

Potência economicamente limpa

Campinas, SP - “Não existem modelos apropriados para que o Brasil atinja o possível nível de primeiro país tropical desenvolvido do mundo. O país talvez seja o que tem melhor condição de inventar um novo modelo sustentável, de longo prazo e baseado em recursos naturais renováveis, a fim de superar o desafio de se tornar o mais economicamente limpo no mundo”, disse Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

As afirmações soaram como palavras de ordem durante a conferência “Mudanças climáticas e o Brasil: por que devemos nos preocupar”, ministrada por ele na terça-feira (15/7), na 60ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Campinas. Ordem por ter sido dita à comunidade científica, que, segundo ele, deve ser a protagonista da criação desse novo paradigma.

“Se o Brasil optar por esse novo modelo de desenvolvimento, a invenção deve começar dentro da universidade. O país tem muitas possibilidades para não só atingir o estágio de liderança ambiental mundial como também servir de modelo para todos as nações tropicais que se preocupam com a adaptação às mudanças climáticas, que são inequívocas, irreversíveis e estão se acelerando”, destacou.

Além das inércias físicas que tornam irreversíveis os efeitos do aquecimento global, Nobre considera que o grande desafio de mitigação do aumento da temperatura mundial não pode ser visto separadamente das questões de desenvolvimento, pois depende do melhor entendimento do que chamou de “inércia institucional”, que inclui o tempo que se leva para os países tomarem uma decisão e investirem em uma ação eficiente para reduzir as emissões.

“Estamos muito longe de ter controle das emissões futuras de gases provenientes dos combustíveis fósseis. O Brasil não contribui significativamente com esse tipo de emissão, mas emitimos muito devido ao desmatamento, que responde por aproximadamente 75% das emissões brasileiras de dióxido de carbono”, disse.

“Cerca de 16% das emissões globais hoje vêm do desmatamento e, para a atmosfera, não faz diferença a origem da molécula, ela se aquece do mesmo jeito. Por isso, o Brasil precisa com urgência de uma mudança de política agrícola que seja acompanhada de incentivos para a modernização tecnológica em todos os setores. Se isso não ocorrer, as taxas de desmatamento continuarão altas”, apontou.

Segundo ele, não existe solução simples para retirar os gases que estão na atmosfera e que continuarão aquecendo a superfície terrestre por séculos. Alguns cálculos indicam que o custo para retirar os gases emitidos pelo homem na atmosfera, se isso fosse possível, seria equivalente a pelo menos dez vezes o Produto Interno Bruto (PIB) mundial.

Nobre destacou o crescimento, mesmo com todas as discussões e restrições obtidas com a Convenção do Clima e com o Protocolo de Kyoto, das emissões de gases estufa de 1,3% ao ano na década de 1990 para os atuais 3,3% ao ano. “A concentração de gás carbônico na atmosfera aumenta a 1,9 partes por milhão por ano. Estamos indo completamente na contramão, enquanto os extremos climáticos estão ficando cada vez mais freqüentes”, alertou.

Segundo ele, cerca de 65% das causas do aumento de gás carbônico na atmosfera são atribuídas ao aumento das atividades econômicas globais. “São poucos os países que têm diminuído as emissões, como Alemanha e Grã-Bretanha. Por outro lado, a China inaugura, em média, uma termelétrica movida a carvão por semana”, disse.

O fator mais preocupante é que os sumidouros naturais desses gases, representados sobretudo pelos oceanos e florestas, têm visto sua eficiência diminuir. “Essa é uma questão teoricamente sem controle que faz com que, gradativamente, tudo o que seja emitido fique na atmosfera, complicando ainda mais o problema”, afirmou.

Outros 17% do aumento ocorrem por conta da deterioração da intensidade de carbono. “Isso significa que o gráfico das emissões necessárias para produção de uma unidade de PIB está piorando, principalmente por conta do aumento das emissões da China e Índia”, apontou Nobre, que foi o primeiro coordenador geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), criado em 1985.

Terras inundadas

Como cabe à ciência quantificar os riscos sistêmicos do aquecimento global, Nobre citou um limite que, segundo ele, torna impossível voltar atrás. “Supõe-se que já tenhamos cruzado vários limites irreversíveis, mas de um temos total certeza, que é o do gelo flutuando no oceano Ártico. Todas as projeções atuais indicam que até 2050, talvez antes, não haverá mais gelo no fim do verão no Ártico”, disse.

“Mesmo que a humanidade pare de emitir gases estufa, não há mais maneira de recuperar o prejuízo. É por isso que o urso polar certamente desaparecerá. Ele poderá sobreviver em zoológicos, mas não mais na natureza”, lamentou.

O pesquisador ressaltou que o gelo absorve cerca de 70% da radiação solar e, conforme a quantidade de gelo diminui, o volume de água que entra no oceano faz com que a água do mar seja aquecida, o que acelera o derretimento das geleiras que sobram.

Nobre, que participou da elaboração dos relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), chamou a atenção ainda para a grave situação de países como a Holanda, por conta do risco acelerado de derretimento das geleiras da Groenlândia, onde se encontra armazenada quantidade suficiente de gelo que, se derretido, aumentaria de seis a sete metros o nível do mar.

Calcula-se que, com a situação atual, levaria de dois a três mil anos para todo o gelo da Groenlândia derreter. “Mas, recentemente, os glaciologistas mostraram um risco muito grande de esse processo ser superacelerado pelo que chamamos de ‘instabilidade dinâmica’, que é quando a água derretida no verão desce muito mais rápido por fissuras na geleira”, explicou.

“Se isso ocorrer, pelo menos 50% do gelo da Groenlândia chegaria ao oceano derretido entre 100 e 200 anos, o que aumentaria o nível do mar em até 3,5 metros. Isso seria suficiente para cobrir cerca de 40% do território holandês”, disse.

Os glaciologistas estimam uma probabilidade de 10% a 15% desse fenômeno no país europeu ocorrer, o que segundo Nobre é um risco sistêmico enorme. Para efeito de comparação, o nível do mar do planeta subiu 17 centímetros no século 20 por conta do derretimento das geleiras.

Ao falar sobre um dos dilemas também apontados pelo IPCC, de que em um mundo desigual as mudanças climáticas aumentarão ainda mais as desigualdades, Nobre lembrou uma máxima do líder pacifista indiano Mahatma Gandhi (1869-1948), que dizia que a terra fornece o suficiente para as necessidades, não para a cobiça dos seres humanos.

Segundo Nobre, isso serve de alerta à sociedade brasileira para o fato de que as regiões e extratos sociais que menos contribuem para o aquecimento global, como África, o sul da Ásia ou o Brasil, que são muito vulneráveis às mudanças do clima, são os que deverão pagar o maior preço.

“Essa questão ética e de justiça global não pode ser abandonada na invenção de um novo modelo sustentável brasileiro”, disse Nobre, que também é o atual presidente do Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP, na sigla em inglês).

Fonte: Agência FAPESP.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Akatu e Wal-Mart juntos em campanha de lançamento da “ecobag”


Sacolas de algodão são vendidas a preço popular para incentivar a redução do uso de sacolas plásticas

Lançada no dia 15 de maio, campanha do Wal-Mart, parceiro estratégico do Akatu, realizada com a colaboração do Instituto, promove a venda de sacolas ecológicas retornáveis. A iniciativa faz parte de um amplo projeto de incentivo ao consumo consciente dirigido aos clientes da rede em todo o país. Feitas de algodão cru, as sacolas têm 50 centímetros de largura por 50 de altura, e são capazes de suportar até 35 quilos. A “ecobag” é vendida por R$ 2,00 e representa uma alternativa de baixo custo à sacola de plástico, tradicionalmente usada para carregar as compras de supermercado.

As vantagens do uso das “ecobags” são muitas. Os impactos do uso da sacola plástica são sentidos por períodos bastante longos, pois este material chega a levar 400 anos para se decompor. Por isso mesmo, após seu descarte continuam ocupando espaço por muito tempo nos aterros sanitários e lixões. E dependendo da sua forma de descarte, podem poluir os rios e o solo. Além disso, as sacolas plásticas são feitas com resina à base de petróleo, material cuja queima é uma das grandes responsáveis pelo aquecimento global e, em muitos casos, o lixo é incinerado, causando este impacto na queima das sacolas plásticas.

Atualmente no Brasil são consumidas mais de 12 bilhões de sacolas plásticas por ano. Em média, cada brasileiro usa 66 sacolas plásticas por mês, o que significa que cada um de nós acaba por jogar no lixo cerca de 800 sacolas plásticas ao longo de um ano. Ao adotar a sacola retornável em suas compras cotidianas, os consumidores podem ajudar a prevenir todos esses impactos negativos no meio ambiente e na sociedade.

Até o momento, a venda dessas sacolas acontece apenas em São Paulo e Curitiba. Mas o projeto deve ser estendido para as regiões Sul e Sudeste até o final de julho e no segundo semestre, para o resto do país. O projeto, no entanto, já é considerado um sucesso. Foram 35 mil “ecobags” vendidas em apenas 3 dias.

Além da venda de sacolas reutilizáveis, também foram colocados em prática outros estímulos à redução do uso de sacolas plásticas. Um deles é a instalação dos “porta sacolas plásticas” nas lojas, um dispositivo que só permite que o cliente pegue uma unidade por vez. As lojas que já estão vendendo as “ecobags” receberam sinalização diferenciada como, por exemplo, carrinhos com mais de 800 sacolas plásticas em seu interior e um banner de alerta: "Achou muito? Pois essa é a quantidade de sacolas plásticas que cada brasileiro joga fora em 1 ano. Use sacolas retornáveis." Todas as mensagens de sensibilização e incentivo à mudança de hábito nas compras e que estão distribuídas pelas lojas da rede foram desenvolvidas em parceria com a equipe do Instituto Akatu.

Para garantir o sucesso do projeto das “ecobags”, um projeto piloto foi implantado, entre 14 de janeiro e 14 de abril de 2008, em três lojas diferentes em Curitiba – um hipermercado, um supermercado e um atacadista – nas quais foram organizados testes oferecendo aos clientes seis tipos de embalagens para transportar as suas compras. As opções oferecidas foram saco e sacola de papel (reciclável e biodegradável), sacolas retornáveis de lona e algodão, caixa plástica e caixa de papelão (também reciclável). As lojas disponibilizaram também a sacola plástica tradicional, feita com plástico reprocessado.

Após a realização do projeto piloto, uma pesquisa com os consumidores verificou que as sacolas retornáveis de algodão foram as preferidas por 51% dos entrevistados por serem resistentes, duráveis, não rasgar, serem laváveis e higiênicas - além de serem ecologicamente corretas. “O grande desafio após a venda é mobilizar os clientes para que utilizem no dia a dia as sacolas retornáveis adquiridas”, completa Raquel Diniz, Coordenadora de Capacitação Comunitária do Akatu.